Como o conflito Rússia X Ucrânia impacta a economia no Brasil
Rússia e Ucrânia são grandes produtores de milho e esse fator pode impactar diretamente o Brasil, tanto na alimentação humana, quanto na alimentação de aves, suínos e bovinos.
Em 1991, com a União Soviética em ruínas, os ucranianos reivindicaram a sua separação da nação russa; foi uma vitória avassaladora, com mais de 92% dos votos da população. A independência da Ucrânia foi um dos últimos movimentos da antiga União Soviética, que teve fim em 26 de dezembro de 1991.
A Ucrânia, após a dissolução da União Soviética, estava totalmente quebrada, pois seus fundos nacionais haviam sido confiscados pela capital russa, Moscou. A nova Ucrânia, agora independente, herdou da antiga União Soviética um arsenal militar, incluindo armas nucleares; com isso, ela tornou-se um país militarmente muito poderoso, chegando a ser a terceira maior potência nuclear do mundo em 1991.
Em 1994, a crise na Ucrânia se estendeu ainda mais, e o país ficou à beira do colapso financeiro completo. Líderes ucranianos pressionaram o governo para se desfazer do arsenal militar em troca de ajuda financeira internacional, podendo recuperar o país financeiramente, mas com o risco de enfraquecer o setor militar no país. Contudo, mesmo sabendo que estava sujeita a uma futura invasão militar, a Ucrânia exigiu um acordo internacional firmado pela Rússia, garantindo que nunca violaria a integridade territorial, conhecido como “O Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança”. Esse acordo político foi assinado em Budapeste, na Hungria, em 5 de dezembro de 1994, oferecendo garantias de segurança por seus signatários com relação à adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Já no cenário atual, com os movimentos geopolíticos realizados pela OTAN que estenderam sua expansão para o leste europeu, foi possível obter a adesão da Ucrânia à aliança militar, ferindo vários desejos de Vladimir Putin de restabelecer a zona de influência da antiga União Soviética.
É lamentável e muito triste a invasão russa do território ucraniano. É uma situação que gera nervosismo na população global, nas empresas, nos governos e, também, no mercado financeiro.
Mas, afinal, qual o impacto desse conflito no Brasil?
No curto prazo, podemos observar duas frentes:
Preço dos combustíveis: o barril Brent, referência para os mercados europeus e asiáticos, chegou a cotar um valor de 130,21 dólares no dia 06 de março de 2022, o maior nível desde de 2014. Tudo devido à boa parte da produção mundial da commodity estar concentrada na região em torno do conflito. Por conta do forte aumento externo, a Petrobrás reajustou o preço. E como no Brasil a maior rede de distribuição é rodoviária, o aumento do Diesel e da Gasolina irá impactar diretamente no consumidor final.
Inflação nos alimentos: Rússia e Ucrânia são grandes exportadores de trigo, e o Brasil um grande importador. Uma eventual alta nessa commodity ocasiona um aumento de preço em toda sua cadeia de produto final.
Rússia e Ucrânia também são grandes produtores de milho, e esse fator impactaria diretamente o Brasil, tanto na alimentação humana, quanto na alimentação de aves, suínos e bovinos.
Além disso, não podemos esquecer dos fertilizantes importados da Rússia: o fosfato de monoamônico, o potássio e a ureia, que representam 50%, 30% e 20% respectivamente.
O aumento dos preços das commodities impacta diretamente no produto acabado como, por exemplo, na gasolina, no óleo diesel, gás, pão, bolo, biscoito, cujo aumento será sentido fortemente no bolso do consumidor. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, apurou os dados e relatou que o Brasil possui um estoque de fertilizantes suficiente até o início do plantio da próxima safra, em meados de outubro de 2022.
Com esses fatores afetando o cenário de curto prazo tão rapidamente, não podemos ser ingênuos de acreditar que não haverá inflação como consequência de tudo isso. Iremos sofrer com ela em alguns setores de imediato.
A pandemia provocada pela Covid-19 colapsou vários sistemas financeiros — com a maioria dos países ainda em recuperação — e agora estamos diante de um conflito geopolítico com diversas narrativas e possibilidades de agravamentos. Historicamente, já ocorreram várias crises mundiais, e, no longo prazo, as economias se ajustaram. Até quando sofreremos impactos e quando tudo irá se ajustar?
*Artigo escrito por Luiz Carlos França Junior, membro do IBEF Academy, formado em Engenharia Civil, tem MBA em Investimento e Mercado Financeiro e em Controladoria e Finanças Corporativas.
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